Durante os últimos três anos,Maria silvia foi completamente apaixonada por José Pedro,sem nunca ter sido correspondida. Apesar de ser auta,linda,jovem e inteligente,sua auto estima rastejava pela redação do jornal,onde ambos trabalhavam. O objeto de sua paixão,além de ser totalmente alheio aos sentimentos da colega, usava a seu favor a torrente de amor que emanava dela. Fazia charme,jogava indiretas,manipulava e cozinhava em fogo brando suas lascas de esperança,despedaçando mais ainda o maltra-tado coração da jornalista.

Maria Silvia vivia como uma farmácia aberta 24 horas: pronta pra entregar,providenciar,descolar,procurar qualquer coisa que o folgado solicitasse. Transformava em mimos e afavores a vontade arrebatadora que tinha de se jogar com tudo na vida,na cama e nos braços do desinteressado. Quanto mais ela ficava á disposiçaõ dele,hipnotizada como uma mariposa em torno da luz,mais ele fazia climas e pedia favores.

No dia em que ela,toda contente,adentrou a sala dele com a notícia de que tinha finalmente fechado para ele uma entrevista com um político importante,ficou surpresa ao ser recebida com um sorriso e um champanhe. Logo, descobriu,porém,que aquele sorriso e aquele champanhe no meio despediente não eram para ela,nem por causa da repostagem que ela tinha descolado. Eram,na verdade,para comemorar o anúncio do noivado dele com outra colega da redação.

Maria Silvia caiu na mais negra depressão.Chorou três dias e três noites,como uma criança.Aos berros.Não comia mais,não dormia mais e trabalhava igual a um zumbi. As duras penas,finalmente,caiu em si.Percebeu,que durante todo esse tempo,tinha alimentado uma ilusão sem nenhum link com a realidade. Que estava se deixando usar e abusar em troca de nada. Uma solidão sem nome se instalou na sua alma. Sentiu-se impotente para viver sem o amor da sua vida. Pensou em sumir. Em acabar. Em morrer.

Estava assim destinada, olhando o vazio da cidade do alto do seu apartamento,no décimo-primeiro andar, avaliando se teria coragem de colocar um fim em tudo, quando ouviu um miado. Olhou em volta e não viu nada,até que o som a levou para a sacada da janela e para a viga logo abaixo de sua varanda. Deu de cara com um gatinho desesperado,implorando sua ajuda. Durante duas horas, toda a sua atençãoe empenho foram para salvar o bichano. Depois de várias tentativas sem sucesso, resolveu pedir ajuda ao novo vizinho. Foi assim,que, minutos depois, entrou pela sala o homem com quem viveria os próximos cinquenta anos da sua vida.O pai de seus filhos, a razão de sua recuperação, e total felicidade,e por ironia do destino,também se chamava Zé Pedro!Mas,que não se parecia em nada com seu xará. Era atencioso,amoroso,e correspondia com igual itensidade todo amor que ela sentia por ele. Salvou o gato e roubou seu coração. E,como sempre acontece nessas histórias,o ex-pretendente não suportou nã ter mais aquele olhar á sua disposição. Colou em cima. Solicitava,pedia,rondava,querendo que ela voltasse a mimá-lo como estava acostumado. Mas, aquela Maria Silvia tinha desaparecido completamente.

Hoje,ela vive feliz com seu marido e com seu amuleto da sorte,o felino salvador. E, para para não desperdiçar a experiência, tem um site que ajuda e apóia pessoas,como ela,quase morreram de amor. Está bombando!(Livro-Monstra e outras crônicas da revista Marie Claire.Patrica Travassos)